segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Antídoto

Linda foi a maneira através da qual um sorriso, comum a primeira vista, amarrou a minha retina e me fez, depois de algumas luas, debruçar sobre esta página azul. 
Havia um quê de teimosia que o fazia ser dolorosamente encantador. Convocado por uma menina, primeiramente, apenas para um flash acompanhado de um registro fotográfico de meros poucos segundos, o danado do sorriso resolveu ficar por instalar-se e não mais quis sair do primeiro plano. Bateu o pé e ficou.
Confesso que antes não havia pensado no colorido deste tipo de situação, que tem caráter natural e cotidiano do lado de cá ( talvez seja este o motivo do meu interesse e vontade de desenhar estas palavras, que aqui correm por si só ). Mas naquele momento ficou evidente a capacidade de um sorriso em ser algo doloroso, desconfortável. Fixei.
A vítima sentia-se fraca na incapacidade de controlar a si própria. Afinal, pensava: como algo tão efêmero pode ter tamanha força e poder sobre mim? Para ela, era difícil conceber a ideia de que o sorriso convocado apenas para um instante havia resolvido por conta própria acompanhá-la quotidianamente, para sempre. Sem ser convidado para tal enlace.
Várias foram as tentativas para que ele desgrudasse de suas bochechas. Ela tentou repetir o feito e começou a fotografar a si mesma e desapontar-se quando percebia que, ao final de cada registro, o sorriso ainda permanecia lá, superficial e cada vez mais evidente. Estava começado a doer. Após outros cliques sem sucesso, sentia a sua esperança de liberdade esmaecida, fraca e a partir daquele momento houve sinais de redenção, mesmo que contra a sua vontade, sobre a presença do sorriso em seus dias futuros.
Mas como era difícil portar algo que não fazia parte de si! Sabia que era acostumada a vestir sorrisos de, no máximo, poucos segundos e que a tarefa de lidar com um de duração infinita era algo insuportável.
Nem para dormir ele dava uma trégua.. Permanecia lá, firme, e de vez em vez se via entrelaçado a um bocejo, um ronco, um espirro e a um rosto matinal amassado. Espelhos não mais faziam parte de seus cenários. Sentia-se patética.
Foi envolvida por pensamentos de culpa e negação construídos por sua própria agonia e desespero, mas nenhum desejo existente era maior do que o de se ver livre do sorriso. Era a sensação de algo descartável, cansaço, com o sentimento de aprisionamento a si mesma. Não havia mais controle sobre os seus músculos, vontades e sistema, mais e mais nervoso.
É sabido que a experiência de estar em uma posição ou contrair uma mesma parte do corpo por longo período de tempo resulta em dor, e esta a acompanhava na mesma intensidade que o sorriso pluripotente. Todos esses elementos combinados faziam a vítima pensar na razão pela qual, entre todas as criaturas do mundo, ela tinha sido escolhida para o castigo de sorrir a todo instante. Um sorriso diferente, que não vinha acompanhado das coisas boas que o seguiam outrora.
Por infeliz razão, pensava, este sorriso não era aquele que dava nome a um simples pastel, nem era o apelido de um sábio gari, muito menos o símbolo de uma cidade fluminense. Era algo mais. Até menos. Sentia medo de sua doença futuramente agravar-se e ser acompanhada da sensação de felicidade e bem estar. Seria castigo demais e vivência insuportável.
Soluções.

Compasso

A visão periférica permitia apenas visualizar uma multidão de cabeças quase que similares, esguias e perenes, sem muitas ondas ou movimentos. As notas produzidas pela banda experiente coloriam, em muitos tons, diversas partes do jardim, inclusive rostos pálidos que ainda permaneciam nos anseios do dia anterior. Era uma atmosfera longínqua que concentrava em si expectativas de um domingo de sol com a trilha sonora de séculos passados somada a topetes coloridos que se destacavam no mar comum de cérebros revestidos por muitos ou poucos pêlos. O intervalo entre duas canções deu espaço a uma cena admirável. Para muitos curiosamente espantosa. Adornado com folhas naturais verdes e uma rosa em botão, um chapéu listrado de preto e branco vestia uma dama inquieta, de lábios perfeitamente vermelhos, cintura compassada e vestes que acompanhavam as suas listras. Mas quanta influência pode ter um chapéu sobre a visão de quem o vê! Sim. Como se boiasse sobre um mar de bolhas rígidas e difíceis de serem estouradas, ele era facilmente estranhado pelos olhares serenos a cada vez que aparecia por aqui ou por acolá, em meio à multidão não-presente. O saltitante personagem permitia que o verde de suas folhas fosse confundido com o de outras, afixadas em árvores que testemunhavam o momento com certo privilégio e posição invejáveis. Era intrigante o fato de que muitos vestiam chapéus de todos os tipos e sabores e que os mesmos passavam desapercebidos quando comparados ao único chapéu que vestia em si uma grande notável. Naquele instante, o local configurou-se e os muitos elementos como música, sol, chafariz e mini-cenouras conectaram-se e doaram, involuntariamente, o cenário perfeito para que o chapéu exibisse o que portava. A dama parecia conhecer de coeur todas as canções embaladas e mostrava tal domínio através dos braços, quadris e, principalmente, pelas nuvens de areia que formava em torno de si como consequência da firmeza e segurança de seus passos alinhados, inquietos dentro de charmosos sapatos pretos. As lentes dos óculos e das câmeras apontavam, agora, para o chapéu e seu conteúdo, e não mais para elementos turísticos artificiais já conhecidos. Não se sabia o que era mais fascinante: as listras pretas e brancas que contrastavam com as grandes folhas verdes no alto ou se era a face risonha requebrante centímetros abaixo. Não se sabia o que era mais chocante: a alegria dissipada tão rapidamente pelo local ou se era a surpresa espantosa das pessoas frente a algo que é, supostamente, natural. Feliz. Após eternos minutos, o chapéu parecia experenciar em si o fato de que possuía limitações físicas que o impossibilitariam de continuar a realizar o mesmo encantamento seguidamente por um período de tempo similar. Os passos riscados pelos quatro cantos do jardim, agora dançante, revelavam certo cansaço e uma necessidade de encontrar um local para se recompor, mesmo em meio a flashs descuidados e elogios envergonhados. Para recarregar-se, o chapéu escolheu o espaço vazio de um banco no qual eu me via sentado. Aproximou-se, pediu-me permissão e após um singelo piscar de olhos se acomodou na altura de minha testa colocando, em seguida, a senhora em uma confortável posição. A mesma visão periférica inicial voltou a se fazer presente para todos do local porém, o que o meu ombro esquerdo passou a presenciar de tão perto era, sem dúvida, um presente. Ploc! Lá se foi a bolha na qual eu habitava. E novas palavras passaram a reconfigurar minha tarde no Jardim de Luxemburgo. 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Já?

Como é bom se sentir desconfortável e desfuncional pelo fato de possuir tempo.
A curiosa atividade do 'nada fazer' carrega consigo um quê de cobrança e satisfação absurdos, e a inevitável comparação com o resto do mundo no que tange às atividades realizadas em um determinado espaço de tempo é um tanto quanto prazerosa.
Como pude me desacostumar dos pensamentos compartilhados com o meu travesseiro durante horas após o sonar do alarme despertador? Assim como dos atrasos por conta dos lençóis movediços que permeiam a minha cama e minha preguiça ao longo do dia? Numa tentativa de mensuração, arrisco dizer que dentro dos 365 no máximo 15 são utlizados para este tipo de deleite...
Não havia experimentado há tempos, em absoluto, o gostoso desespero do 'escrever um texto às pressas' por conta de um horário marcado no consultório dentário (no qual bato cartão no período de duas dezenas de dias por volta de dois anos) ou por algum compromisso ordinário qualquer. Confesso, estou adorando e não vejo a hora de sentir falta.

São em momentos como estes que se percebe o quanto uma Universidade em greve pode balançar a vida de um terráquio...

P.s. Gracias a quem me fez reavivar este espacinho virtual. (V. fugaz)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pêlo amor de Deus!

Deve ser chato ser um pêlo de axila.
Ainda mais nesta época do ano... vai dizer que, por exemplo, a maioria das fantasias de passista das escolas de samba é confortável? Ou melhor... 'axilamente confortável'?
Hoje, no banho, tive reflexões sobre. Senti-me sufocado só de pensar no cotidiano desses filamentos particulares.
Imaginem só, viver coberto por uma fragrância que nem sabem se te agrada, e nos poucos momentos livres dela estar sendo esfregado por esponjas dotadas de mais substâncias, e de forma nada delicada. Puseram-se no lugar? Desodorante - banho, banho - desodorante.
Claro que não se pode generalizar. Há pessoas que cuidam deles de forma maternal, deixando-os livres de toda e qualquer substância química que os possa sufocar ou de forma decisiva, cortando-os por suas raízes e deixando a axila desorientada, nua e solitária - ainda há quem duvide do poder dos 'prestobarbas' e da malígna cera quente? - por caprichos ou fetiches estéticos.
Meu coração partiu-se quando me veio à mente os momentos em que os desodorantes transbordam em excesso e cristalizam os benditos em cristais brancos e grudentos... superincômodos às roupas humanas, assim como as vezes em que os pelinhos se afogam em meio à intrusos de outra fisiologia querendo roubarem o espaço em meio ao mar 'roll on'. É chato se deparar com intrusos numa situação de tamanho incômodo e quase assassinato.
Normalmente temos confiança nos lugares em que estamos vivendo, habitando ou residindo. Mas, IMAGINE, quando esse lugar lança moléculas de odores nada agradáveis em forma de suor e nós somos obrigados a contactá-las sem chances de escape ou fuga... O espaço entre a axila e as camisas que vestimos não merece esse nome. É desumano.
Entre fisiologias totalmente distinas e imprevisíveis, proporcionadoras de momentos des ou agradáveis, entre muito suor e pouco suor, entre a distintas marcas e qualidades dos desodorantes nacionais e internacionais, entre choques mecânicos inesperados, entre 'gorduras braçais' dos mais variados tamanhos sobre/vivem (ou não) os pêlos axilares.

Tenho poucos, graças à carga genética que carrego.

Um ótimo carnaval, consciente!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Bloginning

Ok.Não sei...
 Para a primeira postagem num blog seria clichê demais dizer que sou uma pessoa que gosta de escrever, que quer um espaço para expor seus feitos, que extravasa e relaxa quando escreve e tal.
 Pulando a parte da apresentação sobre mim que, creio eu, já se encontra debaixo da foto que compreende a face da minha pessoa entubada em mais ou menos dois centímetros quadrados no canto direito de sua tela, as razões pelas quais decidi ter um blog ainda devem esperar serem encontradas por mim. Sei que fiz.
 É tão intrigante visitar e, principalmente, ler os escritos do blog de uma pessoa qualquer - principalmente uma que conheço -. Eu acho. Pelo menos no meu caso que escrevo do jeito que não falo, falo do jeito que não escrevo, não escrevo do jeito que falo nem muito menos falo do jeito que escrevo, a não ser nas janelas do messenger. Vem a ser uma maneira de lidar com as outras expressões que alguém pode oferecer e de imaginar a situação/motivo/porquê na qual o escrito foi escrito.
 Enfim, deixarei que este outro futuro vício informacional me sirva com o que de bom ele pode me oferecer, assim como os queridos que, aqui, compartilharem algo comigo.

P.s. Acabo de confirmar a hipótese de que pensar em fazer um texto legal para compor a primeira postagem de um blog não funciona ... Lançar varas objetivando fisgar ideias e razões boas que possam formar um texto é demais para nosso mar morto encefálico.


Hasta!